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31 jan 2022

Alunos do 1º ano inauguram currículo que transforma o ensino médio

Foto: Jair Amaral/EM/D.A Press %u2013 3/11/21

Tão importante quanto desenvolver habilidades e conteúdos é desenvolver habilidades e competências para o jovem flertar com possibilidades diversas, experimentar novos caminhos, ter condições de estar no mercado de trabalho, na universidade ou num curso técnico. Na volta às aulas deste ano, esse será o caminho a ser seguido por milhões de estudantes do 1º ano do ensino médio em todo o país, de todas as redes de ensino. A promessa do novo formato da última etapa da educação básica é lhes permitir estar onde querem estar e ter nas mãos as rédeas do futuro. Agir como protagonistas de seus percursos escolares, assegurados por uma formação geral básica traduzida em direito mínimo de aprendizagem. Na rede estadual de Minas Gerais, alunos de 2.388 escolas conhecerão as mudanças a partir do próximo dia 7. Particulares também passarão por adaptações.

O novo currículo foi formatado para estar de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que definiu conteúdos obrigatórios e comuns a todo o país. A Lei 13.415, de 2017, alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e estabeleceu mudanças na estrutura do ensino médio. O prazo para implementação, de cinco anos, venceu agora. O novo modelo será oferecido somente a alunos do 1º ano, de forma gradativa, e contemplará os três anos do médio em 2024. Apenas o estado de São Paulo, que antecipou a implantação, tem as turmas de 2º ano já imersas no processo.

Entre as mudanças, está a ampliação do tempo mínimo do estudante na escola de 800 horas para 1 mil horas por ano e definição de nova organização curricular. Mais flexível, ela contempla, além da BNCC, a oferta de diferentes possibilidades de escolhas aos estudantes  – os itinerários formativos, com foco nas áreas de conhecimento e na formação técnica e profissional. Com a BNCC, a ideia é dar ênfase ao processo de protagonismo do estudante, com estratégias para que essa etapa de ensino faça sentido para a ele. O novo currículo é dividido em formação básica (conta com habilidades e conteúdos necessários ao aprendizado de todos os estudantes) e flexível. Nele, há disciplinas eletivas e a possibilidade de o estudante fazer seu percurso formativo.

Na rede estadual de Minas Gerais, as escolas sairão de 25 aulas semanais para 30, sendo 12 delas relativas a componentes curriculares jamais vivenciados: os itinerários formativos. Para cumprir as 1 mil horas, 83% dos estabelecimentos de ensino estaduais optaram por ter um 6º horário e 17% escolheram o contraturno uma vez por semana. Mas, essa ampliação não significa necessariamente mais tempo em sala de aula. Pelo menos não para todos. A ideia da Secretaria de Estado de Educação (SEE) é levar em conta também as experiências vividas pelo aluno, seja no trabalho, na comunidade onde vive ou a partir de seu engajamento social – algo considerado importante para os alunos do noturno, da Educação de Jovens e Adultos (EJA), e para aqueles que já estão no mercado de trabalho.

A legislação e o desenho feitos em Minas permitem, por exemplo, integrar a carga horária de estágio àquela do contraturno ou do sexto horário, como no caso dos menores aprendizes –  uma garantia de flexibilidade no sistema de registro de frequência e no histórico escolar. “Se a família acha importante fazer um curso de informática por dois meses, no fim, apresenta à escola o comprovante e o aluno volta a frequentar as aulas. Não estamos mudando radicalmente a rotina de quem já tem outros compromissos”, garante a diretora do ensino médio da SEE, Mônica Couto. “Os itinerários são desenvolvidos sob forma de projeto: se fez um curso, o aluno consegue ser reintegrado à turma sem perda de aprendizagem. Agora, é pôr em prática tudo isso e acompanhar as dificuldades que sabemos que existirão, fazendo as adaptações necessárias”, diz.

ORIENTAÇÕES 

Bem orientar sua comunidade escolar é a preocupação da diretora Patrícia Bernadete Xavier Andrade Lima, da Escola Estadual Geraldo Teixeira da Costa, em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. As reuniões com os coordenadores de área começaram ainda nas férias. No dia 2, está marcada uma live para pais, professores e alunos de Patrícia com o também diretor Heverton Ferreira, da Professor Domingos Ornelas, escola localizada a poucos metros de distância.

Patrícia vai trabalhar com o 6º horário e itinerário formativo na área de linguagens, para abordar técnicas de redação do Enem, práticas criativas e mundo do trabalho, entre outros temas. “Os estudantes teriam direito de escolher as eletivas, mas por ser tudo novo e eles também estarem chegando, cada escola fez uma opção. Eles escolherão no 2º ano. Aqui, direcionamos para disciplinas com carga horária reduzida e que podem ser completadas com eletivas. Além disso, muitas vezes o aluno não é direcionado para o Enem por escolha própria. Entendemos, assim, que com o novo ensino médio eles possam ser mais esclarecidos e tomar decisões mais assertivas”, relata.

Prevendo um início difícil e necessidade de adaptações, a diretora não desanima, tamanha é a vontade de deixar para trás “um currículo ultrapassado”. “Ficamos empolgados com as novas disciplinas, direcionadas a práticas fora da escola. Veio para inovar e nos possibilitar ensinar para que possam aprender melhor, ter foco ao concluir o ensino médio. É uma possibilidade inclusive de reduzir a evasão. São novidades, mas dentro da realidade e vivência dos estudantes. Sinto que eles terão mais voz para ser protagonistas desta nova ideia de educação.”

Ferramenta de futuro e para superar perdas

Mudanças em curso e expectativa de que, dentro de três anos, os primeiros frutos do novo ensino médio comecem a ser colhidos na forma de melhor desempenho dos alunos em avaliações como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Mas, se o objetivo é começar com o pé direito e mirar no futuro, não dá para ignorar os dois últimos anos de pandemia, que trouxeram efeitos nefastos para a educação brasileira.

Em muitas cidades, os alunos que agora chegam ao ensino médio ficaram 18 meses com suas escolas fechadas enquanto cursavam o fundamental – muitos deles nem retornaram à sala de aula depois da reabertura. Que há defasagem, ninguém duvida, a questão é saber o tamanho dela. Para isso, Secretaria de Estado de Educação (SEE) prepara um diagnóstico em todas as suas escolas para evidenciar o que precisa ser retomado e sugerir aprendizagens essenciais entre uma etapa e outra.

A avaliação levará em conta os componentes curriculares e as áreas do conhecimento. Uma das pistas é usar os itinerários e seus projetos para contornar o problema. “A proposta do novo ensino casa com essa necessidade e ajudará a retomar o que ficou para trás, sem que isso seja um fardo para o aluno. Evitará que ele perca o interesse e abandone a escola”, afirma a diretora do ensino médio da SEE, Mônica Couto. “Os movimentos são aplicados na realidade. Deixa de ser estanque. Não termino quando faço uma prova.”

Em meio a tantos desafios, professores retomam o trabalho em 1º de fevereiro com mais uma missão: conhecer as novidades, participar de webnários que contemplarão temas como mundo do trabalho e tecnologias aplicadas à educação e preparar a chegada dos alunos na semana seguinte. “Estamos programando acolhimento para declarar ao estudante que lugar é esse do novo ensino médio, que pressupõe orientação ao professor e escuta ao aluno. Em paralelo, faremos comunicações nas redes sociais para informar a sociedade civil como um todo o que são esses componentes e o peso dos itinerários”, informa a gestora da secretaria.

Explicações mais que necessárias; afinal, nem o material didático será mais o mesmo. O novo ensino médio dá adeus a livros de química, física e de todas as outras disciplinas de forma individual. Agora, eles são por área – linguagem, ciências da natureza, ciências humanas e matemática –, à imagem da divisão feita pela BNCC e já encontrada no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Assim, geografia, sociologia, história e filosofia, por exemplo, estarão num só exemplar. Em linguagem, as disciplinas dialogam com artes e educação física, mas língua portuguesa e inglês, embora incluídas, não abriram mão de reinar à parte. São as duas únicas matérias que se destacam de suas áreas para ter livros independentes.

Alunos de 13 escolas da rede estadual já conhecem as bases do novo ensino médio. Em 10 delas, onde o projeto-piloto foi implementado pela secretaria em 2020, o novo currículo atenderá até o 3º ano. Nas três restantes, que entraram no programa no ano passado, serão contemplados 1º e 2º anos. “Temos boas expectativas. Esperamos que os meninos se encontrem nesse lugar, um ensino médio que faça sentido, que o conteúdo não finde no conteúdo, que consigam aplicar o que aprendem, pensar no projeto de vida (obrigatório ao longo dos três anos)”, afirma Mônica Couto.

Fonte: Estado de Minas Gerais