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14 set 2021

Como estimular o protagonismo das crianças na Educação Infantil?

Fonte: Getty Images

A palavra “protagonismo” aparece pelo menos 60 vezes na nossa Base Nacional Comum Curricular –  ou seja, está mais do que reforçado o quanto isso faz parte dos fundamentos que norteiam os processos de aprendizagem nas escolas em todo o país. Só que nem sempre foi assim: no passado, a organização curricular era centrada na figura do professor. Com isso, todas as discussões sobre metodologias de ensino e práticas mais eficientes de organização do trabalho colocavam o docente como a figura central, como o detentor do saber, que possuía uma conduta inquestionável. 

No caso da Educação Infantil, ainda havia outro ponto: inicialmente, as práticas de atendimento nessa etapa focavam basicamente na atenção básica higienista; posteriormente, passaram a considerar apenas o cuidar, sem qualquer compromisso pedagógico com o educar e pensando esse espaço como uma preparação para escola, e para as outras etapas da vida. 

Felizmente, desde os mais recentes marcos legislativos como as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI), de 2009, e agora a BNCC de Educação Infantil (2017), esse cenário mudou. Vemos, assim, uma concepção de criança como um sujeito histórico e de direitos (com destaque para os seis direitos de aprendizagem previstos na Base: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se); como um sujeito inserido socialmente; e como um sujeito de múltiplas linguagens, capacidades e formas de se expressar, com um modo próprio de aprender e de se relacionar com o mundo e com as pessoas. 

Por isso, quando falamos em protagonismo infantil, estamos falando em todas essas possibilidades, algo que vai muito além de meramente organizar um espaço para que manipulem objetos e respondam “sim” ou “não” para as proposições dos adultos. Na verdade, é necessário que o professor coloque a criança no centro do seu processo de aprendizagem, e ao mesmo tempo, se torne um ‘co-protagonista’, já que o seu trabalho docente é marcado por uma intencionalidade pedagógica visando que os pequenos sejam, de fato, os protagonistas dos seus percursos de aprendizagem. E para isso, é importante considerarmos ao menos cinco questões fundamentais, que destaco a seguir: 
  1. Cada criança é um sujeito singular 

Por mais que todo professor exerça sua função no âmbito coletivo, não podemos nos esquecer que cada sujeito é único, tem sua personalidade, seu histórico de vida, seu modo específico de ser e agir no mundo. A criança só desenvolve condições para exercer seu protagonismo quando se encontra em um espaço que acolhe e valoriza essas diversidades. 

Trago dois exemplos: o momento do sono não necessariamente precisa ser ao mesmo tempo para todos; e talvez nem todas as crianças consigam comer tudo, ou a quantidade exata recomendada pela nutricionista. Certas vivências farão mais sentido para algumas crianças e nem tanto para outras, por isso, é importante planejar vivências simultâneas e espaços diversos que respeite os múltiplos interesses, e considerem questões como dias em que as crianças poderão estar mais cansadas ou com maior estresse, o que exigirá uma atenção mais individualizada. 

  1. A participação das crianças 

Como já pontuei anteriormente, essa participação vai muito além do “sim” e do “não” das crianças para as proposições do professor. Inclusive, ‘participar’ é um dos seis direitos de aprendizagem da BNCC, sendo algo que se efetiva em um ambiente de constante diálogo. O planejamento é construído a várias mãos, em momentos de conversas que podem parecer despretensiosas, mas que envolvem muita escuta das ideias e impressões das crianças, como destaquei na minha última coluna

Com os grupos das crianças bem pequenas e pequenas é possível organizar assembleias, debates e votações simples para a tomada de decisões conjuntas sobre as pequenas coisas, como por exemplo, decidir quais serão as brincadeiras no parque, quais materiais são de interesse coletivo, quais os livros que querem ler, quais personagens interessam numa brincadeira de dramatização, e muitas outras possibilidades. 

  1. A continuidade das experiências 

Não basta apenas um bom planejamento e a construção de experiências para os pequenos. Com o seu olhar que é, ao mesmo tempo, atento para todos, e observador sobre cada uma das crianças, o professor vai sintonizar os diferentes interesses da turma e contribuir para que as vivências tenham continuidades, percorrendo os campos de experiência previstos na BNCC de Educação Infantil, e dessa forma, estabelecendo situações em que as crianças terão a possibilidade de ampliar os seus saberes e de explorar diferentes caminhos. 

Afinal, a realidade infantil é muito pautada pelo “aqui e agora”, e é justamente possibilitando a continuidade das ações que os professores vão poder garantir o crescimento e a qualidade das experiências na escola.

  1. As ações do professor são essenciais para o protagonismo das crianças 

É muito importante reforçar que o professor incentiva protagonismos quando marca intencionalmente em seu planejamento o resultado de suas observações e da escuta das crianças, e assim, incentiva a diversidade de brincadeiras e consolida vivências significativas de acordo com os múltiplos interesses e a realidade social, cultural e natural de cada um. 

Isso se dá de diversas formas na Educação Infantil, como quando o educador se coloca enquanto agente articulador de diferentes contextos educativos, acredita no potencial das crianças, as considera em sua integralidade e respeita as especificidades, com um olhar cuidadoso para que exista interação em pares, em grupos, com faixas etárias diferentes, e com oportunidades para que a criança tenha sua experiência individualizada. 

  1. As ações das crianças revelam esse protagonismo 

Por fim, é interessante observar que as próprias crianças revelam, por meio das suas ações, que estão em um espaço que garante o seu protagonismo. Isso ocorre, por exemplo, quando se mostram confortáveis, seguras e autônomas para percorrer os espaços da instituição, explorar todos os materiais, e com eles criar outras proposições ao transferi-los de lugar, empilhar, montar e desmontar, e ainda quando demonstram que as suas preferências sobre brincadeiras, alimentação e organização dos seus pertences são respeitadas. 

Além disso, elas se sentem motivadas a vivenciar os desafios propostos,  e encontram nos diálogos uma liberdade para se expressarem, como quando fazem comentários sobre as histórias, incluem outros personagens, contextualizam com outras vivências, e indicam que estão tendo os seus tempos e interesses respeitados.

Com isso, caros professores e professoras, vemos que o protagonismo infantil se revela mesmo é na convivência diária, quando as crianças têm voz ativa e quando veem que os seus direitos de conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se estão garantidos desde a sua chegada e ao longo das mais significativas memórias construídas nesse espaço que tem tudo para ser único e inesquecível: a sua escola.

Um abraço e até breve! 

Paula Sestari é professora de Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC), com 10 anos de experiência nessa etapa, e mestre em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano com um projeto na área de Educação ambiental com a faixa etária das crianças pequenas.

Fonte: Nova Escola