(16) 3446-7008

Acesse o Sasepp

Sasepp

Acesso restrito

Whatsapp
9 maio 2025

Da organização da sala ao tom de voz, 8 dicas para uma aula mais eficiente

Recomendações simples podem ter um grande impacto para a concentração da turma durante as atividades em sala de aula

Aprender a administrar uma sala cheia de crianças exige tempo e paciência.

Professores no início de carreira, compreensivelmente, tendem a focar no controle do comportamento e na definição de regras, enquanto os professores experientes desenvolvem uma compreensão mais abrangente da gestão de sala de aula e sua complexidade. Esses são os achados de um estudo das pesquisadoras Rebekka Stahnke (Universidade Técnica de Dortmund, na Alemanha) e Sigrid Blömeke (Universidade de Oslo, na Noruega).

Elas analisam as diferenças entre professores novatos e experientes na gestão de sala de aula. Segundo a pesquisa, enquanto os iniciantes concentram-se principalmente no controle de comportamentos, os mais experientes adotam uma visão mais ampla, conectando a disciplina ao planejamento, à organização do espaço e às interações sociais. Para as autoras, essa competência exige prática contínua, reflexão e adaptação.

Quando chegam à metade das suas carreiras, os educadores costumam adotar uma visão mais holística da disciplina, percebendo como ela está intimamente ligada à clareza de suas aulas, às dinâmicas entre os pares e até à organização física da sala de aula.

O mau comportamento na sala de aula, por sua vez, nem sempre é o que aparenta. À medida que os alunos transitam pelo ambiente social da sala de aula, é natural que ocorram momentos ocasionais mais desafiadores, diz Stephanie Jones, psicóloga do desenvolvimento.

Comportamentos assim, de acordo com a especialista, “nem sempre são um sinal de desrespeito intencional às regras ou às outras pessoas” e podem fazer parte do desenvolvimento social e emocional saudável da criança, à medida que testam limites, aprendem sobre consequências e afirmam sua independência.

Não existe uma fórmula mágica para manter os alunos focados e evitar interrupções. A pesquisa de Rebekka e Sigrid mostra que ser um professor eficaz “exige a aplicação adaptativa de um repertório de diferentes estratégias de gestão da sala de aula”.

Aqui estão oito estratégias práticas e de fácil aplicação que podem ter um grande impacto para ajudar a concentração da turma nas atividades em sala de aula.

1. Contato visual

“Às vezes, em determinadas situações, não é necessário usar palavras; apenas um contato visual ou se aproximar do aluno já pode ser suficiente”, escreve Rebecca Alber, formadora de professores na Escola de Educação da Universidade da Califórnia (EUA). “Estratégias de gestão não verbal, como essas, ajudam a manter o respeito e a harmonia na sala de aula.”

Ela destaca a importância de usar “o olhar” – como uma sobrancelha arqueada ou um olhar firme direcionado ao comportamento inadequado – com moderação, para garantir sua eficácia e evitar estigmatizar os alunos, pois o uso excessivo pode ter esse efeito.

Uma pesquisa recém-divulgada pela Universidade de Michigan (EUA), em parceria com o Instituto para a Melhoria da Qualidade Educacional da Universidade Humboldt de Berlim (Alemanha), mostra que professores experientes costumam agir de forma rápida e discreta diante de distrações, evitando interromper o fluxo intelectual da aula – prática alinhada ao conceito de “sobreposição”, proposto pelo psicólogo Jacob Kounin.

Ao lançar um olhar rápido, aproximar-se discretamente ou mencionar o nome do aluno em meio à explicação (como na frase “Estamos analisando a inclinação desta reta, certo, João?”), o professor envia mensagens sutis como “Eu percebi”, “Pare com isso” ou “Considere este um aviso”, sem interromper o andamento da aula.

Parece estranho no começo, mas professores iniciantes podem praticar técnicas como “o olhar” em casa e depois testá-las em sala antes de aperfeiçoá-las. Alguns educadores relatam que conversam diretamente com os alunos sobre seus sinais não verbais preferidos, explicando o significado de certos gestos e expressões para orientar os comportamentos esperados.

2. Tom de voz

A maneira como você vê seu comportamento como uma forma de autoridade pode ser percebida pelos alunos como excessiva ou até mesmo autoritária.

Em um estudo de 2022, pesquisadores analisaram como alunos do ensino fundamental reagiram a instruções típicas, como “Está na hora de começar a aula” ou “Escutem com atenção” transmitidas com tons de voz que variavam de exigente a neutro e positivo.

Tons neutros e positivos levaram a um clima de sala mais acolhedor e solidário, enquanto tons mais duros minaram a confiança e desmotivaram os alunos, que acabaram deixando de compartilhar segredos com seus professores – informações importantes sobre bullying, dificuldades ou até conquistas acadêmicas de que se orgulhavam.

Encontrar seu tom leva tempo e prática, mas “desenvolver uma voz calma, neutra e assertiva faz parte da autorregulação do professor”, o que, por sua vez, permite que os alunos também sejam “autorregulados e seguros de que o professor será receptivo, mas também está no controle”. Quem explica é Linda Darling-Hammond, ex-professora da Stanford e atual presidente do Learning Policy Institute, organização de pesquisa sem fins lucrativos, com sede nos Estados Unidos, dedicada a promover políticas educacionais que melhoram a qualidade e a equidade na educação.

Na Van Ness Elementary School, em Washington (EUA), os professores trabalham ativamente o tom de voz e modelam a autorregulação por meio de seu uso estratégico. “Se falamos de forma agressiva, podemos, sem querer, estar usando o medo para manipular o comportamento das crianças”, diz Cynthia Robinson-Rivers, “em vez de auxiliá-las a cultivar a motivação interna para agir de maneira correta pelas razões adequadas.”

3. Buscando clareza

Preparar uma aula bem pensada, com instruções muito claras, não apenas facilita o processo de aprendizagem, mas também ajuda a minimizar interrupções. Em um levantamento de 2018, pesquisadores descobriram que 15% dos comportamentos inadequados eram atribuídos a fatores instrucionais, como “a falta de clareza nas expectativas ou domínio da sala por parte do professor”.

Christopher Pagan, professor de física do ensino médio, aplica pesquisas com seus alunos para entender melhor a clareza de suas aulas. “O objetivo da pesquisa é dar voz aos meus alunos para me dizer o que posso mudar e que práticas posso implementar para ajudá-los a ter melhor desempenho”, diz ele. A pesquisa “não tem nada a ver com o conteúdo. Não há perguntas sobre física.”

Um estudo de 2019 reforça essa abordagem ao mostrar que professores altamente eficazes revisam constantemente seus materiais para avaliar o que está funcionando ou não. Em atividades mais complexas, incentive os alunos a verbalizarem os passos que compreenderam, enquanto você os anota no quadro e faz os ajustes necessários.

As transições entre atividades costumam ser uma fonte comum de caos na sala de aula, mas rotinas bem estabelecidas são uma maneira eficaz de reduzir essas interrupções. “Dificuldades durante as transições podem se manifestar como fuga, desatenção, resistência ou reações impulsivas”, escreve a terapeuta ocupacional Lauren Brukner.

Considere usar recursos visuais como cartazes de apoio para lembrar os alunos das expectativas, gravar a si mesmo para identificar pontos de melhoria ou visitar salas de professores mentores para aprender com suas práticas.

4. Cumprimente os alunos na porta

Gastar alguns minutos no início da aula para dar boas-vindas aos alunos, seja com uma saudação na porta ou uma reunião matinal, não só estabelece um clima positivo, como também pode aumentar o engajamento e reduzir comportamentos indesejados. 

Uma pesquisa de 2018 (replicada com alunos mais velhos no mesmo ano) revelou que saudações positivas na entrada da sala aumentaram o engajamento acadêmico em 20 pontos percentuais e reduziram o comportamento inadequado em 9 pontos, o que equivale a “uma hora extra de engajamento em um dia de aula de cinco horas”, segundo os pesquisadores..

Mais recentemente, um estudo de 2024 mostrou que estratégias de gestão de baixo impacto, como cumprimentar os alunos na porta, são eficazes para “desarmar problemas em vez de intensificá-los”, ajudando os alunos a ver os professores mais como mentores e guias do que como figuras autoritárias. Quando se sentem bem-vindos na sala de aula, os alunos tendem a se engajar de forma mais genuína em sua aprendizagem.

5. Mantenha as distrações sob controle

Na disputa pela atenção dos alunos, é difícil competir com a atração dos dispositivos eletrônicos ou brinquedos sensoriais que piscam e fazem barulho. Em um estudo de 2020, alunos sentados perto de colegas que navegavam na internet durante a aula tiveram desempenho 9 pontos percentuais inferior em testes de retenção. Mesmo aqueles que não olhavam para a tela se distraíam, sugerindo que captavam sinais sutis — como risadinhas ou postura relaxada — que indicavam falta de foco acadêmico.

No início da aula, a professora de matemática Rebecka Peterson pede que os alunos guardem seus celulares em um suporte apropriado. “Não torne os celulares um grande problema; é só mais um procedimento”, escreve ela. Se não for possível afastar os dispositivos, estabeleça limites firmes: “Tenho uma campainha na sala… e os alunos sabem que isso significa guardar os celulares e tirar os fones de ouvido”, conta a educadora Sarah Said.

Por fim, é importante ter cuidado com brinquedos sensoriais que fazem barulho, acendem ou podem ser arremessados. Exemplos como spinners (brinquedos manuais que giram em torno de um eixo central) e pop-its (pequenos brinquedos de silicone com bolhas que podem ser pressionadas e estouradas, semelhantes a bolhas de plástico) são usados frequentemente para aliviar o estresse ou melhorar o foco, mas podem acabar sendo mais uma fonte de distração do que de ajuda.

“Não há evidências suficientes para apoiar o uso de brinquedos sensoriais na sala de aula”, explicam os pesquisadores em um estudo de 2023. Alunos que utilizam spinners, pop-its e bolinhas — os mais distrativos — tendem a ter desempenho significativamente pior, além de afetarem os colegas próximos, de acordo com uma pesquisa de 2019.

6. Tornando suas perguntas inesperadas mais acessíveis

Muitos alunos evitam participar das discussões devido à timidez, ao receio de parecerem incapazes ou à falta de interesse pelo tema.

Não é raro o professor fazer uma pergunta e ser respondido apenas pelo silêncio. No entanto, nem todos os professores lidam com o ‘silêncio’ da mesma maneira. Um estudo de 2022 identificou duas abordagens principais: ‘encorajadora e envolvente’ ou ‘confrontadora e intimidadora’.”

Para manter a participação em alta, tente ‘aquecer’ o momento de silêncio após uma pergunta. No estudo, professores do ensino médio que usaram uma linguagem mais acolhedora, como ‘Gostaria de ouvir algumas ideias’, conseguiram reduzir o medo dos alunos e promover discussões mais ricas, nas quais os estudantes se sentiam ‘seguros para assumir riscos’.

Com o tempo, uma abordagem bem executada da chamada inesperada pode reduzir a ansiedade e incentivar mais participação. Segundo um estudo de 2013, “uma vez que o aluno participa algumas vezes, torna-se mais fácil continuar contribuindo”. De fato, quando os professores aplicam a técnica com frequência, a participação pode saltar de 50% para mais de 90%. Além disso, essa estratégia é particularmente eficaz para estudantes mais reservados, como meninas, conforme apontado em um levantamento de 2019.

7. Hora da pausa!

Uma pausa curta após uma aula longa ajuda a manter os alunos mais engajados ao longo do dia e reduz distrações. As “brain breaks” (pausas cerebrais) não são moda passageira: têm respaldo científico e são valorizadas por professores experientes. Uma pesquisa de 2024 descobriu que 91% dos professores do ensino infantil e fundamental usam pausas para retomar o foco e melhorar o processamento da informação.

Em um estudo de 2021, cientistas analisaram a atividade cerebral de crianças após pausas curtas, jogando bolas, fingindo ser carros ou brincando”. Descobriram que pausas de 4 a 6 minutos melhoraram a eficiência da atividade neural, levando a “maiores chances de os alunos estarem atentos” nas atividades seguintes.

Até os mais velhos se beneficiam. Uma pesquisa de 2020 mostra que pausas curtas com exercícios físicos reduziram quase pela metade os comportamentos fora de foco entre adolescentes do ensino médio, tornando-se “uma abordagem prática e viável”.

8. Ignore as pequenas distrações

Tentar corrigir cada pequena distração pode parecer uma boa ideia, mas frequentemente leva a mais problemas de comportamento. Um estudo de 2016 mostra que chamar a atenção de alunos por questões menores, como distração ou conversas rápidas, pode prejudicar a sensação de pertencimento, levando a mais indisciplina no futuro. Para alguns estudantes, essa atenção negativa pode reforçar padrões de comportamento inadequado ao longo do tempo.

Embora uma abordagem mais firme possa ser necessária em infrações graves ou repetidas, é melhor começar de forma suave e focar na resolução do problema.

Quando os professores reagem de forma defensiva, podem acabar em disputas de poder ou em padrões de comunicação ineficazes, escreve a professora de educação especial Nina Parrish. Mantenha a calma e evite frases que começam com “Você” — por exemplo: “Você nunca escuta! Pare de sair do seu lugar!” — que normalmente desencadeiam resistência. Em vez disso, reformule com uma “mensagem eu”: “Gostaria que todos os meus alunos estivessem sentados, ouvindo e seguindo as instruções para saberem o que fazer em seguida.”

Quando os alunos inevitavelmente testarem seus limites, aja com calma e compaixão. A educadora Emily Terwilliger sugere ensaiar mentalmente situações difíceis: “Pense nos cenários que podem acontecer na sua sala de aula e como você quer responder antes do início do ano letivo”, escreve. “Isso tornará os primeiros redirecionamentos e intervenções menos intimidantes.”


* Publicado originalmente em Edutopia e traduzido mediante autorização
© Edutopia.org; George Lucas Educational Foundation

Fonte: Porvir

Imagem by rawpixel.com on Freepik