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8 abr 2025

IA como instrumento de apoio na aprendizagem e nunca de substituição de professores

O 9º eixo do documento da ONU sobre o apagão docente propõe que o uso da IA na educação seja ético, pedagógico e voltado ao apoio ao aprendizado, e não à mercantilização ou substituição de professores

O mês de abril reserva a todos/as os/as educadores/as brasileiros/as a 26ª Semana Nacional em Defesa e Promoção da Educação Pública da CNTE. Oportunidade única para fazermos o debate sobre os rumos da nossa educação básica pública, nesse ano, com o tema “Escola Pública não é Negócio. É Direito!”, o evento visa alertar sobre os riscos da privatização, militarização e desvalorização dos/as profissionais da educação, além de fortalecer a luta por um ensino público democrático e de qualidade.

E como vamos falar hoje do 9º eixo do Documento produzido pelo Grupo de Alto Nível da ONU, criado ainda em 2022 para propor soluções para o fenômeno global do apagão docente, que trata sobre o uso apropriado da Inteligência Artificial (IA) na educação, nada mais apropriado do que reafirmar o lema de que a escola pública não é negócio. Isso deve ser reafirmado por que todo o debate do uso de IA na educação no Brasil costuma sempre passar por uma captura da mercantilização da educação. É fundamental que, a exemplo do proposto nesse Documento da ONU, a IA na educação, e todos os processos de tecnologia, sejam instrumentos de apoio na aprendizagem, e nunca de negócio que vislumbra o lucro e a substituição do professor em sala de aula.

A tecnologia tem transformado diversos setores da sociedade, e a educação não é exceção. Com o avanço da IA, surgem novas oportunidades para melhorar o processo de ensino-aprendizagem. No entanto, é essencial que os governos implementem políticas que garantam o uso responsável dessas tecnologias, evitando a substituição de professores nas salas de aula e promovendo a autonomia dos/as educadores/as. É fundamental que haja uma forte regulação governamental nessa área para que, somente assim, a fome dos mercadores de plantão não se sobreponha ao sagrado direito à educação que todos os povos do mundo devem ter assegurado.

Os governos nacionais, é indicado nesse Documento da ONU, devem estabelecer diretrizes claras para o uso de IA nas escolas, garantindo que essas tecnologias sejam utilizadas como ferramentas de apoio no processo de aprendizagem. Algumas medidas importantes nesse bojo de regulamentação governamental do uso de IA devem definir normas para a integração das IAs no currículo escolar, assegurando que seu uso seja ético e focado no benefício dos/as estudantes, além de oferecer programas de capacitação para os/as professores/as, permitindo que todos/as adquiram as habilidades necessárias para utilizar a IA de forma eficaz.

Tão importante quanto esse protocolo de uso das IAs no processo educacional, o Documento da ONU indica também a implementação de sistemas de monitoramento contínuo para avaliar o seu impacto no processo de ensino-aprendizagem, ajustando tudo e sempre conforme seja necessário. Qualquer processo de perda de autonomia do professor na condução desse processo deve ser imediatamente detectado e seu rumo de implementação ajustado. É muito fácil a gente se render a esse processo de alienação que as IAs no induzem: elas passam a fazer tudo por nós e isso é muito perigoso.

Para que a IA seja realmente benéfica na educação, é crucial que os/as professores/as tenham autonomia plena no uso dessas tecnologias. Isso significa que os/as docentes devem ser capazes de criar e adaptar conteúdos, utilizando a IA como um complemento ao seu trabalho, e não se restringir a serem apenas consumidores de ferramentas prontas. Algumas estratégias para promover essa autonomia devem incluir o desenvolvimento de plataformas que permitam aos/às professores/as criar materiais didáticos personalizados, utilizando a IA para enriquecer o conteúdo. Tão importante quanto isso é a escola oferecer suporte contínuo para que os/as professores/as possam explorar novas formas de integrar a IA em suas práticas pedagógicas.

Diante disso, e somente assim, a IA pode ser uma poderosa aliada no processo de ensino-aprendizagem, facilitando e complementando o trabalho dos/as professores/as em sala de aula. Deixando a tarefa de ensinar mais leve e menos pesada. Só quem fica no dia a dia de uma escola sabe o quão penoso pode ser o trabalho do professor e da professora em uma sala de aula com mais de 40 estudantes. Portanto, utilizar a IA para adaptar o conteúdo às necessidades individuais dos/as estudantes, oferecendo atividades e recursos personalizados, aplicando os para analisar o seu desempenho para, assim, identificar as áreas de dificuldade e sugerir as intervenções necessárias e particulares a cada um de nossos/as estudantes.

As recomendações do Documento da ONU, então, têm a preocupação central de usar a tecnologia e a IA com um potencial de revolucionar a educação, mas é fundamental que seu uso seja orientado por políticas governamentais que garantam a autonomia dos/as professores/as e a valorização do seu papel insubstituível. Não podemos sucumbir ao processo de mercantilização que comumente está associado ao uso das tecnologias educacionais. Com a implementação de diretrizes adequadas, podemos criar um ambiente educativo onde a IA funcione como um apoio valioso, facilitando e complementando o processo de ensino-aprendizagem, sem comprometer a essência da relação entre educadores/as e estudantes.

(*) Por Heleno Araújo, professor, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e atual coordenador do Fórum Nacional da Educação (FNE).

* As opiniões dos autores de artigos não refletem, necessariamente, o pensamento do Jornal Brasil Popular, sendo de total responsabilidade do próprio autor as informações, os juízos de valor e os conceitos descritos no texto.

Fonte: Sinteal

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