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1 jul 2025

Matemática na escola: como mudar a formação de professores para superar as dificuldades de aprendizagem

Dados mostram que o Brasil e outros países enfrentam desafios semelhantes no ensino de matemática. Entre eles, destaca-se a necessidade de repensar a formação de pedagogos e as licenciaturas

A matemática talvez não esteja entre as temáticas mais queridas de todos os estudantes. Pelo contrário, ela pode entrar na lista dos componentes curriculares que os alunos menos gostam. Mas é tudo culpa dela? 

O último Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), estudo divulgado em 2023 pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, uma organização internacional composta por 38 países, na sua maioria economias avançadas), mostrou que 73% dos estudantes brasileiros ficaram abaixo do mínimo nesse componente (ante 31% da média de estudantes da OCDE). O índice avalia competências em matemática, leitura e ciências, além de outras habilidades, como criatividade e pensamento crítico, por meio de uma prova aplicada em 81 países.

De acordo com Antônio Miguel, professor no departamento de ensino e práticas culturais da Faculdade de Educação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), os desafios encontrados no ensino da matemática não são únicos do Brasil e estão relacionados à maneira como se decidiu ensinar o assunto. “A maior parte das pessoas responderia que a matemática é mal ensinada, que é preciso ter metodologias diferenciadas”, iniciou o docente em entrevista ao Porvir. 

“Nas pesquisas que temos feito, sobretudo no campo da história da matemática, o fracasso reiterado do ensino e da aprendizagem da matemática no mundo todo – não é só um fenômeno no Brasil – se deve, na verdade, ao fato de que a rigor, nós não ensinamos matemáticas nas nossas escolas, mas a gente sempre ensinou filosofias da matemática”, destacou. 

Dados de 2021 do Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica) apontaram que somente 37% dos estudantes do 5º ano atingem o nível esperado de aprendizagem de matemática. O estágio é representado por quem atinge mais de 225 pontos (em 375), conseguindo resolver problemas básicos, interpretar gráficos simples e reconhecer formas e medidas. Anos depois, ao final do ensino médio, o funil aperta ainda mais, com apenas 5% concluindo a etapa com uma aprendizagem adequada. Estamos falando de uma pequena parcela de estudantes capazes de demonstrar habilidade para resolver problemas com funções, interpretar gráficos complexos e trabalhar com geometria analítica.

O que isso quer dizer?

Antônio, que é membro do Phala, grupo de pesquisa em educação, linguagem e práticas culturais, exemplifica que, reduzir a geometria à identificação de formas geométricas ou a matemática somente à contagem de objetos é uma abordagem limitada. A matemática vai além, sendo uma prática cultural bem ampla e ligada à resolução de problemas da vida, mas não corresponde à sua totalidade. 

“O conhecimento matemático, desde a época pré-histórica, corresponde a práticas que são produzidas como respostas a problemas emergentes nos diferentes campos de atividade humana, na agricultura, no comércio, na navegação etc. Por isso, não devemos ver a matemática como um conjunto de conteúdos seriados e organizados”, afirma. 

Em outras palavras, o professor propõe uma ampliação do que se entende por matemática no momento de apresentá-la aos estudantes, situando-a como algo presente na vida deles, conectado com suas experiências cotidianas, para além das fórmulas e cálculos geométricos. 

“Um dos problemas que identificamos, e que faz com que as dificuldades de aprendizagem no Brasil sejam transversais, independentemente de contexto, região, cultura ou experiência, é uma falta de uma discussão efetiva sobre matemática com os alunos. Não discutir por discutir, mas de fazer com que os estudantes parem e reflitam”, diz Miguel Ribeiro, professor da Faculdade de Educação da Unicamp e coordenador do CIEspMat (Grupo de pesquisa e formação em matemática). 

Segundo o educador, de norte a sul do país, esta dificuldade é comum nas aulas de matemática. “De modo geral, é uma prática muito centrada no saber fazer ou em encontrar a resposta. Se analisamos a maioria dos materiais disponíveis para os alunos, é assim: ‘faz isso e isso, acabou, passe para a próxima’. Portanto, os alunos têm dificuldades no mesmo conjunto de coisas”, afirma o pesquisador. 

Trazer o cotidiano para dentro da matemática

Nesse aspecto, uma mudança proposta pelo educador com potencial impacto no aprendizado dos estudantes consiste em trazer o cotidiano para a aula de matemática. “Na minha perspectiva, é um ponto positivo trazer experiências sociais e culturais como ponto de partida e como contexto de discussão”, diz. 

Ele propõe também que esses debates sirvam para incentivar o pensamento crítico da turma em relação aos seus próprios territórios. Ou seja, pensar sobre a matemática no cotidiano para compreender como intervir no contexto social e até mesmo transformá-lo. 

De acordo com dados do Censo da Educação Básica de 2024, existem 2,4 milhões de docentes, com a maior parte deles atuando no ensino fundamental (o que corresponde a 1.431.320 docentes). Desse montante, estima-se que pouco mais de 600 mil dediquem-se a ensinar matemática.

Fonte: Porvir

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